quarta-feira, 9 de maio de 2012


Reflexões Sobre o Dia das Mães

Com o rolar do tempo e o transcorrer dos dias, vamos chegando sucessivamente às mesmas datas e celebrações evocativas de afeto e de saudade. São os marcos do coração — os dias que condensam em suas horas fugazes, o que de vida e emoção fremiu e palpitou nos anelos, nas lutas, nas renúncias ou nas alegrias de muitos outros dias vividos. Tais são os natalícios da família, os aniversários de casamento — datas que tanto ajuntam de encanto e doçura à vida do lar — o Natal da cristandade e, de anos a esta parte, o emotivo Dia das Mães.
Para muitos, a festinha com que celebramos o amor materno talvez passe como tantas outras — ouvir-se-ão discursos, poesias e cânticos e músicas, e tudo desaparecerá com mais uma hora de maior ou menor emoção. Outros haverá, no entanto, para quem a celebração deste dia talvez encerre uma significação toda nova, percebendo-lhe um sentido mais vasto e fundo do que nunca lhe lograra penetrar.
Mas qual a razão de ser dessa festa? Qual o objetivo dessa celebração que se traduz em luzes e flores, palavras de exaltação e hinos de louvor? Não é acaso de sobejo conhecido esse Afeto sem limites, altamente proclamada essa dedicação sem par?
Sim, bem o sabemos todos. Todavia, quão pouco, relativamente, nos detemos a considerá-los em seus pormenores, a aquilatá-los em sua justa estimativa, a sondá-los em seu verdadeiro sentido? Quantas vezes, ao estouvado filho, para quem o sentimento é fraqueza, as solicitudes de uma mãe não se afiguram pieguice, suas lágrimas exageros mórbidos, suas admoestações impertinências intoleráveis?
Em certo sentido, como o dia de repouso semanal nos detém no agitado curso das lides diárias, convidando-nos a tudo deixar para o sursum corda da adoração e do louvor ao supremo Pai e doador de todos os bens, assim o Dia das Mães nos sugere um “Alto!” na rotina da vida, em que a alma volva ao passado na evocação dos incessantes cuidados, das múltiplas provas de amor e desvelado interesse que nos prodigalizou a venerável autora de nossos dias. Pois não tem sido ela, durante os anos de nossa impotente infância, a nossa Providência visível? Ela, que nos deu o ser em sofrimentos, e numa sucessão de lágrimas disfarçadas com heroísmo e sorrisos ufanamente ostentados, nos trouxe por entre escolhos e flores à varonilidade produtiva ou à feminilidade benéfica?
Que doença sofremos que ela se não afligisse? Que obstáculo enfrentamos, que não nos ajudasse a transpor? Que erro cometemos, que se lhe não confrangesse o coração, ou que vitória alcançamos que este lhe não transbordasse de júbilos e gratidões?
Triunfa o filho, ilustra-se e cobre-se de glória? É a mãe quem primeiro com isso se regozija. Cai ele em desagrado, prejudica-se ou desonra-se? É ela a primeira e a última a seu lado.
Conheci uma velhinha, mãe de dois únicos filhos. Um, distinto engenheiro, abastado e esposo de bondosa e delicada criatura; o outro, um inválido, sem cultivo e casado com uma mulher de caráter vulgar e sem linha. A velha mãe, senhora de recursos, malgrado o desejo do primeiro filho de a ter em sua companhia, quase não se afasta de ao pé do outro, desditoso, de cujo lar se tornou coluna, sofrendo o mau gênio da nora que lhe não sabe apreciar o gesto. Casos assim quase todos conhecemos, por isso que são tão comuns nas mães.
E como conforta, em meio dos muitos exemplos que ouvimos aqui e ali, de filhos extravagantes que espezinham o coração materno, ora por uma vida irregular e dissipada, ora pelo abandono a que votam na velhice a autora de seus dias, ora ainda por um trato áspero e desrespeitoso, como conforta, digo, ouvir a história de um bom filho! Não há muito que me foi relatado de um nosso vizinho que, pelo muito amor que tinha a sua mãe, não se quis casar; fê-la rainha de esplêndida morada, cobre-a de sedas e jóias, e pede aos servos que, se ela disser que pedra é pau e pau é pedra, concordem; e se lhes ordenar que atirem ao chão uma pilha de louça qualquer, lhe obedeçam. Será talvez um tanto exagerado esse amor, dirão, mas é decerto um raro e louvável exemplo de amor filial em nossos tempos!
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Com o rolar do tempo e o transcorrer dos dias, chegamos sucessivamente às mesmas datas e celebrações evocativas de afeto e de saudade. Mas os cenários mudam. Ontem, talvez um ramalhete de flores oferecido por entre carinhos e sorrisos, uma cartinha rescendendo apreço e amor! . . . Amanhã, quanta vez! uma lágrima ardente vertida sobre um perfil emoldurado de mulher . . . Uma braçada de flores, uma silhueta que se curva por sobre uma lápide silenciosa, em muda e dolorosa evocação!
Texto de Autoria de Isolina A. Waldvogel, publicado na Revista Adventista de Maio de 1960.