quinta-feira, 19 de abril de 2012

Outra guerra no Oriente Médio ?


Barack Obama vem tentando esfriar a febre da guerra que, de repente tomou conta de Washington no início deste mês. Mas a visita do primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu e a enxurrada de declarações que o rodearam criaram uma dinâmica perigosa. É fácil ver como as coisas se movem em direção a guerra. E é difícil ver como eles não o fazem.
A pressão está aumentando sobre o Irã, mas não há discussões sérias de resultados negociados. Israel tem sido cada vez mais explícito ao dizer que pode lançar um ataque de verão. Obama tem aumentado as suas ameaças de ataques militares também, limitando o seu campo de manobra. E candidatos presidenciais republicanos imediatamente considerarão qualquer solução negociada – não importa o quão abrangentes sejam as exigências das inspeções – como uma traição.
Logo, ou o Irã de repente e se renderá completamente – e quando é que os países fizeram isso sob pressão estrangeira? – ou Israel vai atacar. E o governo israelense sabe que a janela apresentada pela temporada política dos Estados Unidos está se fechando. Se atacasse até novembro, teria a garantia de apoio incondicional de Washington. Depois de novembro, a resposta americana se torna menos previsível. O relógio está correndo.
Antes de partir em uma jornada para outra guerra no Oriente Médio, vamos relembrar alguns fatos. Primeiro, o Irã não tem armas nucleares. E a evidência é ambígua quanto à possibilidade de o país ter decidido fabricá-las. A comunidade de inteligência dos Estados Unidos concluiu duas vezes que não há provas de que o Irã tomou a decisão de construir uma arma nuclear. O Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de Londres divulgou um relatório em fevereiro, que concordou com essa análise. Por outro lado, a Agência Internacional de Energia Atômica sugeriu recentemente que o Irã poderia estar trabalhando em alguns aspectos militares do programa nuclear.
E se o Irã conseguir desenvolver um par de armas nucleares brutas em alguns anos? Obama diz que um Irã nuclear iria detonar uma corrida armamentista no Oriente Médio. Mas uma Coreia do Norte nuclear não levou os dois países diretamente ameaçados por suas armas – Coreia do Sul e Japão – a buscar armas nuclear. A Arábia Saudita e Egito não produziram armas nucleares em resposta ao enorme e robusto arsenal de armas nucleares produzido por Israel. E o Egito já entrou em guerra com Israel três vezes. Por outro lado, nunca esteve em um conflito com o Irã. Se os Estados Unidos fornecerem garantias de segurança para os vizinhos do Irã, como Hillary Clinton propôs, é altamente improvável que qualquer um deles resolva produzir armas nucleares.
Obama explicou que um Irã nuclear seria um problema, como a Índia e o Paquistão, com suas armas nucleares. Mas a Índia e Paquistão entraram em guerra três vezes em 30 anos, antes de terem armas nucleares. Desde que se tornaram países nucleares, eles foram contidos e não travaram uma guerra em 40 anos. Esse caso mostra a estabilização, e não a desestabilização, promovida pela dissuasão. Se Israel realmente acredita que a dissuasão não funciona no Oriente Médio,porque que então mantém um grande arsenal nuclear se não para deter seus inimigos?
Armas do Irã poderiam cair nas mãos de terroristas, diz o presidente. Mas será que um país que tem trabalhado há décadas para desenvolver um programa nuclear e sofreu sanções e custos enormes para fazê-lo, em seguida, simplesmente entregaria os frutos de seus esforços para um bando de militantes? Esse tipo de raciocínio faz parte da visão de que os iranianos são um povo louco e messiânico, propenso a cometer suicídios em massa. Quando o general Martin Dempsey explicou na CNN no mês passado, que considerava o Irã um “ator racional”, ele atraiu para si uivos de protesto dos telespectadores.
Dempsey tinha razão. Um agente racional não é necessariamente um ator razoável, ou alguém que tem os mesmos objetivos ou valores que você. Um agente racional é alguém que está preocupado com sua sobrevivência. Em comparação com regimes revolucionários radicais, como a China de Mao – que falavam de sacrificar metade da população da China em uma guerra nuclear para promover o comunismo global – o regime iraniano tem sido racional e calculista em suas ações. Em um ensaio na Washington Monthly, Paul Pillar oficial veterano da inteligência norte-americana escreve: “Mais de três décadas de história demonstram que os governantes da República Islâmica, como a maioria dos governantes em outros lugares, são absolutamente preocupados com a preservação de seu regime e seu poder – neste vida, não numa vida futura”.
Na verdade, toda a estratégia punitiva contra o Irã se baseia na noção de que o Irã está calculando os custos dessas pressões e mudará suas políticas em consequência. A questão agora não é se o Irã pode ser racional, mas se os Estados Unidos e Israel podem avaliar cuidadosamente as consequências de uma guerra preventiva – dentro do Irã e mais além – e pesá-los contra seus benefícios limitados e temporários.
* Editor da revista TIME; apresentador do programa Fareed Zakaria GPS na rede CNN; e autor de O Futuro da Liberdade: A Democracia Iliberal nos Estados Unidos e no Mundo
FONTE ;http://opiniaoenoticia.com.br/

http://diariodaprofecia.blogspot.com.br/